.
O Racionalismo Cristão, por ser uma filosofia espiritualista, divulga princípios universais para que sejam estudados e, após a necessária reflexão, colocados em prática, tornando os seres humanos espiritualmente independentes.
______________________________________________________________________________________

ANTONIO DO NASCIMENTO COTTAS, O CONSOLIDADOR DO RACIONALISMO CRISTÃO

Em meio às montanhas, mais precisamente na cordilheira de Barroso, na Aldeia de Sirvuzelo, Freguesia de Outeiro, Conselho de Montalegre, em Portugal, nascia em 19 de novembro de 1892 o menino Antonio, filho do brioso e honrado Cabo da Guarda Fiscal Sr. Miguel Cottas e da Sra. Maria da Conceição Cottas.

O menino Antonio, desde cedo se destacou pelo seu comportamento e sagacidade no meio dos outros de sua idade.

Com a transferência do pai para Soutelinho da Raia, foram residir em Ardãos, terra natal do Sr. Miguel Cottas.

O menino Antonio iniciou os estudos primários, despertando já a atenção do velho professor da Aldeia, em função do talento e aproveitamento nos estudos. Era comum o primeiro lugar com distinção nos exames a que se submetia.

Terminado o primeiro grau, o velho professor e o padre da Aldeia de Ardãos chamaram o seu pai, dizendo-lhe que o garoto não deveria parar os estudos. Ofereceram, caso o pai permitisse, enviar Antonio para o Seminário.

O Sr. Miguel ao retornar para casa, fala com a esposa e ambos discordam da idéia apresentada, por sentirem não ser esta a vocação de Antonio.

O menino era companheiro do pai, desde tenra idade freqüentava o quartel em Chaves, onde os superiores hierárquicos do Cabo Militar tinham grande admiração e estima pelo menino.

O comandante da Unidade, bom amigo e conselheiro do Cabo Miguel Cottas, ao saber das intenções do padre e do professor de Ardãos de mandarem Antonio para o Seminário, reagiu dizendo:

- Sr. Miguel, vamos matriculá-lo na Escola de Guerra.
- Mas como, se eu sou um simples Cabo e a escola de Guerra é privilégio de filhos de Oficiais? (falou o Sr. Miguel).
- Em resposta, o comandante surpreendeu o Cabo Miguel dizendo-lhe que concedesse a perfilhação do menino Antonio, por gostar muito dele!
- A reação do Cabo Militar Antonio Cottas foi imediata;
- Agradeço, porém jamais permitiria tal coisa.

O oferecimento do Comandante chocou profundamente o espírito do Sr. Miguel. Regressando ao lar, conta à sua esposa o ocorrido e acharam por bem mandar o menino para o Brasil. E como sofreram os honrados pais com a tomada dessa decisão!

Aos vinte e sete dias do mês de março de 1905 deixava Antonio do Nascimento Cottas, o lar paterno.

Dizia Antonio Cottas; minha sempre querida e lembrada mãe havia-me preparado para a viagem e até esse dia soube chorar para dentro, pois não a vi derramar lágrima.

Mas, naquele dia, colou o seu rosto ao meu e, enchendo-o de beijos, não pode mais suportar as lágrimas.

Com as suas lágrimas escaldantes a banharem o rosto, entregava um crucifixo de Cristo, uma oração à santa Bárbara e uma carta de meu bondoso pai, que não teve coragem de despedir-se, dizendo-me que nunca me esquecesse de orar de manhã e à noite e que honrasse sempre o seu nome.

De madrugada, havia se levantado meu pai, dizia Antonio Cottas, que foi ao meu quarto, fitou-me em silêncio e, como dormia tranqüilo, aproximou-se e beijou-me, sem que eu acordasse.

Triste ficou Antonio Cottas por não conseguir abraçá-lo nem beijá-lo, despediu-se apenas, mas minha mãe contava-me depois,o motivo: seu pai, esse homem austero, possui alma de criança meiga.

Na carta que deixou para sua mãe entregar-lhe, lembrava os deveres de filho e de chefe de família, dizendo que poderia vir a falecer cedo e que nesse caso, teria Antonio de ser o “chefe da família.”

Em 18 de Abril de 1905, com 12 anos de idade, chegou ao Rio dia Janeiro, onde passou a viver sob os cuidados de seu tio Joaquim, ingressando logo no comércio, um estabelecimento de Secos e Molhados, no Catete.

Eis Antonio Cottas, ainda de compleição franzina, a assumir tal responsabilidade. Além de atendimento no balcão, era encarregado de entregar as compras aos fregueses, tarefa que desempenhava com certa dificuldade, quase superior a suas forças.

A maioria dos fregueses não lhe dava atenção, mas uns poucos lhe dispensavam certo acolhimento, e dentre esses exaltava ele a particular receptividade que recebia da esposa do general, mais tarde, marechal Osório, herói da guerra do Paraguai, que residia na Rua do Riachuelo, ao pé da antiga Inspetoria de Águas e Esgotos, hoje Cedae. O prédio da residência, por seu valor arquitetônico e histórico, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural da União.

A esposa do marechal levava o menino até a cozinha e mandava servir-lhe café com acompanhamento, tal como dispensado à família. Aquela acolhida, ainda que por rápidos momentos, lhe trazia um consolo espiritual, de que ele sempre haveria de lembrar-se com imensa gratidão.

O senso de solidariedade familiar aflora precocemente, o menino Antonio do Nascimento Cottas, tornou-se incontido no desejo de ganhar mais, com o saudável propósito de ajudar a família que ficou em Portugal, com uma austeridade tal que o levou a sucessivas mudanças de emprego.

Essa inconstância no emprego lhe valeu uma severa advertência da parte do tio Joaquim, segundo a qual, se ele não permanecesse no próximo emprego, não mais teria acolhida na casa dele.

Recebendo tão dura advertência, Antonio do Nascimento Cottas, já com aquela independência de quem sabe o que quer, não pensou duas vezes: arrumou as malas, reunindo todos os seus pertences, seguindo em direção da Central do Brasil, onde tomou o trem em que viajou, em idas e vindas sucessivas até o dia amanhecer, conforme conta o seu irmão, o médico Dr. João Cottas.

Ao sair da Estação de Trens, Antonio do Nascimento Cottas foi abordado por um patrício, com a seguinte pergunta: “Portuguesinho, chegaste agora, tens emprego? Se não tens, vem comigo, pois na Rua Luiz de Camões, precisam de um portuguesinho como tu”.

Com essa indicação, lá se foi Antonio do Nascimento Cottas, à procura de emprego, num local considerado então, um antro de viciados e de jogatina.

Vindo ao mundo, num lar humilde, Antonio do Nascimento Cottas madrugou nas agruras da vida, trabalhando duro, dormindo sobre o balcão do estabelecimento comercial, sentindo saudades do aconchego da família, onde não lhe faltava agasalho nas noites frias, nem o carinho paterno.

A vida desse valoroso rapazinho prosseguia vitoriosa. Impunha-se à admiração de seus patrões pela verticalidade de suas atitudes, pela honestidade, pela honradez, pela capacidade e rapidez no desempenho de seu trabalho.

Passando a outros empregos comerciais, veio a ser empregado de um honrado comerciante, Sr. Joaquim Bernardino de Oliveira, que era o pai do então jovem Emir Nunes de Oliveira, que se tornaria mais tarde, um dos seus maiores amigos.

Imediatamente, Joaquim Bernardino de Oliveira vislumbrou um grande futuro para aquele rapazinho laborioso, esperto, inteligente e de raciocínio rápido.

Em poucos anos ele passou de simples empregado para gerente, depois interessado na Casa Comercial e, finalmente, na condição de sócio.

Com o passar do tempo, com o fruto de suas economias, tornou-se sócio de um armazém no largo do Maracanã esquina da Rua Felipe Camarão. Não tardou, mais adiante, com seus esforços e trabalho árduo, adquiriu com outro sócio o segundo armazém nas imediações.

Nas varias funções que exerceu no comercio, sempre foi bem sucedido, desde a de caixeiro que, ao abrir as portas do estabelecimento, o fazia rogando a Santo Antonio, o Santo da sua devoção, que o seu patrão tivesse um bom dia de féria.

Em suas atividades no armazém onde se empregara, era o primeiro a abrir as portas do estabelecimento e o último a fechá-la.

Foi crescendo, e participava de um grupo de amigos, alguns até conterrâneos, ambiente em que se fazia uso imoderado do cigarro, bebida alcoólica e havia até outros exemplos de conduta reprováveis, situação a que Antonio Cottas estava sempre alheio, firme na formação cristã que lhe incutira o sadio ambiente familiar de seus pais.

Certa ocasião, estava em pleno carnaval, e os seus companheiros induziram-no a participar de um bloco carnavalesco em que a fantasia era a do chamado "dominó". Preparava-se para sair já com a fantasia e, ao passar por um espelho, nele se mirando, sentiu-se tomado por uma súbita revolta, pelo ridículo que ia passar, com a fantasia, e imediatamente dela se livrou, ficando bem com sua consciência. Naquele dia, desencarnara sua querida mãe. A notícia, que lhe causou profunda tristeza, veio dias após a desencarnação.

Todas as manhãs, recebia, no seu armazém principal, a visita de um Coronel reformado do Exército, que ia ler o jornal, diariamente, exposto no balcão. Certa vez, notou que Antonio Cottas estava um tanto apressado, pronto para sair, alegando que iria a uma reunião da irmandade da igreja de Santo Antonio, situada no topo de um morro existente na Praça Sete (Barão de Drummond).

O Coronel indagou :

– Aonde vais, Antonio? Por que tão longe, se tens aqui perto, na Rua Jorge Rudge, uma casa tão boa, o Centro Redentor, onde se realizam sessões públicas e doutrinações três vezes por semana?

Incontinenti, Antonio Cottas tirou o paletó e voltou a suas atividades no armazém, afirmando que iria assistir a uma dessa sessão.

Nesse recuo brusco, sentira Antonio Cottas o primeiro toque do Astral Superior e lá estava ele na primeira sessão que se realizava. Tamanho foi seu entusiasmo, envolvido pela eloqüência das doutrinações de Luiz de Mattos, que dele não tardou a aproximar-se.

Ainda muito jovem, no final da 1ª. Guerra Mundial, no ano de 1917, já derramava a bondade de sua alma altruísta, conforme constatamos mediante pesquisa em seus arquivos pessoais, quando descobriram que várias vezes contribuiu para uma organização da época denominada “Grande Comissão Portuguesa Pró-Pátria” em beneficio dos órfãos dos soldados portugueses, mortos na guerra.

Daí em diante, começa a sua grande ascensão na vida, comercial. Profundamente econômico e cauteloso, já detentor de um bom capital, estabeleceu-se por conta própria no comércio varejista, em Armazém situado no Boulevard 28 de Setembro nº 25, em Vila Isabel, a pouca distância do Centro Redentor, e mais tarde como atacadista na Rua Acre, constituindo uma das grandes firmas da época, denominada Silva Almeida & Cia Ltda. Porém com Joaquim Bernardino de Oliveira continuou a mais sólida das amizades, considerando-o seu ex-patrão, e depois ex-sócio, como seu benfeitor e segundo pai.

Anos depois, Antonio do Nascimento Cottas, já rapaz, comerciante sagaz, com certa estabilidade na vida, e em boas condições financeiras, radicado em Vila Isabel, e, dedicando-se aos estudos, torna-se um autodidata perfeito.

Nesta fase, faz incursões através de diversas religiões, estudando entre outras a católica e o esoterismo, mas sem satisfazer-se em seus anseios espirituais.

Comercialmente, ou seja na vida material, se achava plenamente realizado, possuindo várias casas comerciais: Armazém Brasil, Mercearia Brasileira, Armazéns dos Heróis, passando para o atacado em 1922, quando era importador de azeite com marca própria, Azeite Sacadura Cabral, vinhos, etc.

Ele mesmo contava que por ocasião da crise financeira verificada durante os anos de 1927, 1928 e 1930, com enorme abalo econômico para o país, um grande capitalista, sabendo das suas dificuldades comerciais, telefonou-lhe dizendo: “Quero dizer-te que onde estiver o teu nome e o da tua Senhora, todos os títulos serão respeitados.”

Por volta do ano de 1918, antes da eclosão da epidemia de gripe espanhola, que assolou o Rio de Janeiro, chega Antonio do Nascimento Cottas ao Racionalismo Cristão. Tinha 26 anos de idade, quando a sua alma recebeu a luz que carecia, no Centro Redentor do Rio de Janeiro.

Extasiado com o que sentira na primeira sessão que assistiu, continua freqüentando o Redentor, e encanta-se com as sábias Doutrinações de Luiz de Mattos.

Era o reencontro de dois grandes Espíritos, de propostas convergentes, sublimadas nos Princípios Racionalistas Cristãos. Daí, Antonio do Nascimento Cottas encontra-se com Luiz de Mattos, e este se simpatiza com aquele, numa afeição de primeira vista.

Na primeira Sessão Pública de Limpeza Psíquica, faltou clareza para o seu entendimento. O que era natural, dado o fato de ter ele se submetido à Limpeza Psíquica, o que até então não sabia o que fosse, mas que depressa compreendeu tratar-se do afastamento dos espíritos malfeitores, quedados na Atmosfera da Terra e que são atraídos pelas criaturas conforme seus pensamentos místicos, religiosos, de gozos, etc.

Limpo psiquicamente, não lhe foi difícil assimilar melhor, na 2ª. Sessão, o que ouvia através dos médiuns e principalmente do próprio Presidente, cujo modo franco, leal e positivo das suas Doutrinações logo o entusiasmou.

Foi tal o seu interesse pelas Doutrinações que pensou: “Por que este homem não vai pregar esta Doutrina lá fora? Se ele fosse algum dia, oferecer-me-ia para acompanhá-lo.”

Mal acabava de pensar isto, ouve na mesa um dos médiuns proferir textualmente as palavras retidas no seu mental, e estupefato ouve em seguida o Presidente responder: “Cada um caminha por si. Esclareça-se e cumpra o seu dever, que eu procurarei cumprir o meu, não precisando que me acompanhem, mas de quem faça o que estou fazendo.”

Desde então, Antonio do Nascimento Cottas entrou para a Doutrina e nunca mais se afastou dela, deixando de pertencer ao Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento; sociedade de estudos espiritualistas, fundada pelo Dr. Rodrigo Silva, em 27 de Junho de 1909, na cidade de São Paulo, com sede nela, estando ligada a inúmeros Centros de Irradiação Mental, criados em várias localidades do País.

Luiz de Mattos, em 28 de setembro de 1921, através de documento registrado em cartório, indicava Antonio do Nascimento Cottas seu substituto na direção do Racionalismo Cristão, quando ocorresse a sua desencarnação.

Antonio do Nascimento Cottas, embora noivo por algum tempo, termina o compromisso, conhece, enamora-se e casa-se posteriormente com a filha caçula de Luiz de Mattos, Maria Julia de Mattos. A cerimônia deu-se em 12 de outubro de 1921, passando a assinar depois de casada Maria Julia de Mattos do Nascimento Cottas. Esta, mais tarde, torna-se a mais famosa escritora do Racionalismo Cristão, assinando simplesmente Maria Cottas.

Antonio Cottas a chamava na intimidade de Mariazinha. Tiveram 4 filhos. Esta, desencarna em 30 de outubro de 1971.

Antonio do Nascimento Cottas, foi o maior discípulo de Luiz de Mattos. Dedicou-se de corpo e alma à Doutrina Racionalista Cristã, que lhe fora confiada.

Além das suas obrigações espiritualistas, ainda encontrava tempo para dedicar-se a atividades no seio da comunidade luso-brasileira, onde teve a felicidade de conquistar grandes amizades, tornando-se uma das figuras exponenciais nos meios lusitanos no Brasil, através de instituições de alto gabarito cultural e filantrópico, tais como o real Gabinete Português de Literatura, federação das Associações Portuguesas e Luso-brasileiras, beneficência Portuguesa e muitas outras.

Recebeu inúmeras comendas e condecorações, tornando-se o Comendador Antonio do Nascimento Cottas. Uma das homenagens que mais o emocionou foi à conquista do Título de Cidadão Carioca, lugar onde exerceu suas lutas e colheu muitas vitórias.

No dia 12 de junho de 1983, desencarnou Antonio do Nascimento Cottas, o grande consolidador do Racionalismo Cristão, com 90 anos de idade. O desenlace ocorreu na U.T.I do Hospital da Beneficência Portuguesa do Rio de janeiro, onde seis dias antes fora internado.

Um dia após sua desencarnação, 13 de junho de 1983, Antonio Cottas manifesta-se em Sessão Pública na Casa-Chefe do Rio de Janeiro, nos seguintes termos:

"Companheiros-e Amigos! Aqui estou para confirmar a grande frase que encerra todo o significado da vida: A morte não interrompe a vida. Não a interrompe realmente! Quando o corpo tomba o Espírito se eleva com coragem e valor!

Não teria sentido a vida do ser humano, se não fosse a vida eterna do Espírito. O Espírito encarna para cumprir deveres, para dar continuidade a sua trajetória evolutiva; uns obtém menos evolução, outros conseguem a evolução total, trabalhando e lutando em prol de causas ou ideais que vão surgindo e se destacando na passagem por este mundo Terra.

O corpo, que é matéria, como sabeis, pouco vale; o espírito, que é luz, este é eterno, este vai processando a força de vontade e os seus princípios espiritualistas.

Há poucas horas, falando terra-a-terra, daqui saiu um corpo inerte, que já começava a desintegrar-se, corpo que serviu de carro para este Espírito que ora se manifesta com conhecimento pleno, com lucidez e, conseqüentemente, sem quaisquer perturbações.

Aqui estou, queridos amigos, estimadíssimos companheiros e companheiras de lutas e de trabalhos no Racionalismo Cristão, Doutrina que amei, Doutrina que abracei, que por ela, queridos companheiros e amigos, a tudo renunciei, renunciando às vezes a mim mesmo, sim, por que a este grande amigo vosso que acaba de desencarnar, foi confiada uma missão sublime, um trabalho de escol, trabalho constante, destinado a consolidar o Racionalismo Cristão.

Desde os primeiros momentos senti que todo esse trabalho, toda essa luta seriam dirigidos ao meu Espírito e entregues à minha responsabilidade, por ocasião da desencarnação, há mais de meio século, do nosso Mestre querido, Luiz de Mattos, daquele que sempre chamei de Pai e que no meu momento de vida física, foi o primeiro a me mostrar, a me guiar para o meu mundo, junto com a plêiade de espíritos amados e queridos, com os quais convivemos em vida física, nesta Casa e no Edifício ao lado, onde hoje se acha instalado o Solar Luiz de Mattos. Espíritos de grandes amigos como Henrique Bastos! Que alegria rever esses amigos queridos, através de seus espíritos!

O momento da desencarnação tão temido por muitos era por mim esperado, embora não o demonstrasse, para não trazer preocupações aos entes queridos, aos companheiros e companheiras de lutas.

Porém com os conhecimentos que tenho, e que tinha em corpo físico, o fenômeno da desencarnação não podia passar-me despercebido. Esperei com paciência, sabendo que aqui já havia terminado a minha missão, que tudo fiz e tudo dei.

Com que satisfação, com que alegria me dirigia a esta Casa para prestar serviços às Forças Superiores, e com que felicidade, ao terminar os trabalhos espirituais, me entregava ao trabalho com toda a atenção, com o cuidado máximo, para levar a bom termo, auxiliado pelos amigos, a parte material da Doutrina!

Foi grande, sim, a luta! Foi um trabalho bonito em que havia momentos – para que negar? – de grandes dificuldades, mas aqueles momentos passavam, elevava meu espírito ao nosso Grande Mestre e Pai e, de lá, ele me orientava, me irradiava e me confortava, ajudando-me a vencer os obstáculos e prosseguir na luta de fronte erguida.

Agora que terminou a luta material, começa a grandiosa e belíssima luta que pode ser entendida por aquele trabalho incansável, belo e ininterrupto, que é o trabalho do espírito liberto da matéria no seu mundo de luz.

Deixei a Doutrina bem consolidada. Ela ficou bem entregue!

Confiamos em ti, Humberto Rodrigues! Tu és o meu sucessor!

Deixei-te exemplos, amor, e respeito; exemplos para dares continuidade ao que já está consolidado, auxiliado pelos racionalistas amigos, verdadeiros e leais; tudo será feito para que todos te auxiliem, para que os instrumentos mediúnicos cumpram com os seus deveres, com a sua convicção, com o seu trabalho honesto, porque, como todos sabem, o Racionalismo Cristão é uma Doutrina da Verdade e, por isso, aqui não se ilude, não se engana; aquele que aqui chega pela primeira vez e parasite na indolência, de nada adiantará a freqüência a esta Casa, porque milagres não existem.

Só podem lucrar com essa freqüência àqueles que se sabem elevar. Os que não o sabem, a Verdade para eles só vem à tona após a partida deste mundo, quando então, verificam como é a vida do espírito liberto da matéria.

Portanto, não poderia jamais deixar de vos orientar neste sentido. Procurai ser Racionalistas Cristãos autênticos, sejam disciplinados, convictos dos seus deveres nesta Casa, nas suas Filiais e em toda a parte.

A Doutrina é uma só; a disciplina também. Assim sendo, não pode haver dívidas nem diferenças, tudo é Luz, tudo é Verdade!

Aconteceu um imprevisto para muitos inexplicável, mas para aqueles que realmente são amigos da Doutrina e por ela esclarecidos, esse imprevisto foi natural porque as leis de causa e efeito não falham, elas são sábias e agem no momento certo. Sofri, sim, sofri e fiz os entes queridos sofrerem.

Embora o corpo não mais funcionasse a contento, o meu espírito, quando em desdobramento, estava ciente de tudo, cônscio de que tudo está sujeito às Leis Imutáveis que regem o Universo.

Fiz muito por mim e pelos meus ideais. Nossas palavras são e sempre forem honestas, por isso temos por obrigação dizer que no final de nossa velhice nada mais havia a fazer. Mas faltava aquele pedacinho de dor material, dor que durante longa vida física nunca tinha sentido.

A família querida que tanto amei, ficou no mundo físico, porque família agora que considero realmente, é a família Astral Superior. O espírito daquela que me serviu de esposa na vida material, também lá estava nesse Astral Superior, resplandecente!

Nessa primeira manifestação me estendo um pouco mais, para vos incentivar, para vos estimular, para que sintam o verdadeiro valor da Doutrina Racionalista Cristã, para que sintam que todo o sacrifício é válido para se chegar a uma casa Racionalista.

Parti feliz, parti limpo, com luzes e mais luzes do Astral Superior, com luzes que as sentia muitas vezes quando ainda encarnado, mas só agora liberto da matéria tive o verdadeiro conhecimento de como elas são, como se apresentam e como são belas!

Não vos deixeis abater. O corpo, o homem, desapareceu da face da Terra, restando a lembrança, as recordações e algumas coisas agradáveis, porém, o espírito, este que vos fala, é eterno, e trabalhando como nunca.

Sempre que for necessário estarei nesta Casa para auxiliar na Limpeza Psíquica, Limpeza da Atmosfera da Terra, tão densa, tão perturbada e tão amargurada nos dias atuais.

Por isso, mais uma vez te recomendo, Humberto Rodrigues: - Pega neste bastão com coragem, muita coragem! Sacode a todos com o teu pensamento forte, desperta os médiuns com o teu valor, a tua coragem, para que eles transmitam os pensamentos da assistência, e, assim, doutrinares com a tua força, a tua boa vontade e a tua grande capacidade!

Assume com coragem e valor a grande Causa, dá exemplos aos teus amigos, aos teus companheiros e companheiras daquilo que te ensinei, dá exemplos de valor, caminha com segurança; és humano, porém trabalha com esclarecimento e com elevação!

Quero ver todos os Racionalistas Cristãos cumprindo com o seu dever. Nada tenho a agradecer, porque nunca admiti agradecimentos. Fazer o bem e ser bom é obrigação de todos.

Deixo a minha irradiação às filhas queridas. O carinho que tiveram para comigo foi sempre um alento e um conforto moral.

Deixo também a minha irradiação para todos os familiares, todos os amigos e racionalistas cristãos autênticos. A vida física acabou, mas a espiritual continua mais forte do que nunca!"

As informações obtidas para o autor escrever sobre a vida do consolidador do Racionalismo Cristão, Antonio do Nascimento Cottas, foram obtidas do trabalho intitulado A Vida e a Obra de Luiz de Mattos, de Fernando Faria, da Gazeta do Racionalismo Cristão, artigo de Antonio Cristovan Monteiro no Jornal A Razão, edição de março de 2006, do livro Páginas Antigas, Casa Chefe do Racionalismo Cristão, edição de 1954 e do livro Memorial de Antonio Cottas, Sua Obra, Sua Pena e Sua Voz de novembro de 1994.